Dr. Mauro Gracitelli

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Artroplastia ou Prótese Reversa do Ombro

Introdução

A artroplastia reversa do ombro tornou-se uma opção eficaz para o tratamento de condições como a artropatia irreparável do manguito rotador e outras patologias degenerativas do ombro. Esta técnica, desenvolvida originalmente por Paul Grammont na década de 1980, tem se mostrado útil para pacientes que não respondem aos tratamentos convencionais, oferecendo uma melhora significativa na função do ombro e na qualidade de vida dos pacientes.

O que é a Artroplastia Reversa do Ombro?

A artroplastia reversa do ombro é uma técnica cirúrgica que inverte a anatomia normal do ombro, posicionando uma esfera na glenoide e uma cavidade côncava no úmero. Isso altera a biomecânica do ombro, permitindo que o músculo deltóide assuma o papel principal no movimento do braço, compensando a deficiência do manguito rotador. Este procedimento é especialmente indicado para pacientes com artropatia do manguito rotador irreparável, onde outros tratamentos, como a artroplastia anatômica, não são viáveis.

Indicações para a Artroplastia Reversa do Ombro

As principais indicações para a artroplastia reversa do ombro incluem

  • Artropatia do manguito rotador (lesão irreparável do manguito associada a artrose)
  • Pseudoparalisia do ombro devido à lesão irreparável do manguito.
  • Artrose com grave deformidade da glenoide (retroversão excessiva).
  • Fraturas agudas ou crônicas complexas do úmero proximal.
  • Revisão de falhas do tratamento de fraturas do úmero proximal.
  • Revisão de falhas em artroplastias anatômicas anteriores.
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Resultados Esperados

Os resultados da artroplastia reversa do ombro incluem melhora significativa na função do ombro, especialmente em movimentos de abdução e elevação anterior. Estudos mostram que a maioria dos pacientes experimenta alívio substancial da dor e melhora funcional.

Em um artigo de revisão sistemática, com mais de 5 anos de acompanhamento pós-operatório, os autores avaliaram 20 estudos, totalizando 1.591 ombros em 1.556 pacientes, com acompanhamento médio de 8,8 anos.

Os principais resultados estão citados abaixo:

  • Pontuações Funcionais: A pontuação média no Constant-Murley (CM), que é uma escala de 0 a 100 (quanto maior melhor) foi de 62,1, com uma melhora de 34,2 pontos em relação ao pré-operatório. A pontuação média do American Shoulder and Elbow Surgeons (ASES) (outra escala, de 0-100, quanto maior melhor) foi de 81,8, com 88% dos pacientes satisfeitos ou muito satisfeitos.
  • Movimentos Ativos: Flexão anterior média de 126°, abdução de 106°, rotação externa de 22° e rotação interna de 6°.
  • Complicações: A taxa de revisão cirúrgica foi de 4,9%, com infecção protética em 4,3%, luxação do ombro em 3,7% e fratura acromial em 2%. Cerca de 30,9% dos ombros apresentaram algum grau de desgaste escapular.

Como é realizada a Artroplastia Reversa do Ombro?

O procedimento é realizado através de uma abordagem cirúrgica deltopeitoral ou anterior superior, dependendo da preferência do cirurgião e das características do paciente. O procedimento envolve a preparação da glenoide para receber uma base esférica e a inserção de um componente côncavo no úmero. A correta tensão dos tecidos moles, especialmente do deltóide, é crítica para o sucesso do procedimento, evitando complicações como a luxação da prótese.

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Exemplos de radiografias antes e depois da cirurgia de prótese reversa

Avanços e novas tecnologias na prótese reversa de ombro

O uso de tecnologia avançada no planejamento e execução da artroplastia reversa do ombro tem se tornado cada vez mais comum, proporcionando resultados mais previsíveis e potencialmente melhores para os pacientes. A seguir, exploraremos três áreas chave: o planejamento 3D, a previsão dos resultados com inteligência artificial e a navegação intraoperatória.

Planejamento 3D

O planejamento 3D tem se mostrado uma ferramenta valiosa na artroplastia reversa, especialmente em casos de deformidades ósseas complexas. O uso de software de planejamento 3D permite ao cirurgião visualizar detalhadamente a anatomia do paciente e planejar a colocação dos implantes de maneira precisa. Estudos comparativos entre o uso de instrumentos específicos para o paciente (PSI) e o planejamento 3D sem PSI mostraram que ambos os métodos são eficazes em alcançar as correções planejadas, mesmo em casos que exigem enxertos ósseos na glenoide. A principal vantagem do planejamento 3D é a capacidade de ajustar a inclinação e a versão da glenoide de forma pré-operatória, aumentando a precisão durante a cirurgia.

Navegação Intraoperatória

A navegação intraoperatória é outra inovação que tem mostrado benefícios significativos na artroplastia reversa. Este sistema permite ao cirurgião monitorar em tempo real a posição dos implantes durante a cirurgia, garantindo uma colocação mais precisa e alinhada com o planejamento pré-operatório. Estudos indicam que a navegação intraoperatória está associada a melhores resultados clínicos, incluindo maior amplitude de movimento e menores taxas de complicações pós-operatórias. Além disso, a navegação pode ajudar a minimizar o risco de complicações relacionadas ao posicionamento inadequado dos implantes, como a instabilidade da prótese e a fratura acromial .

Em resumo, a combinação do planejamento 3D, da previsão de resultados com inteligência artificial e da navegação intraoperatória representa um avanço significativo na artroplastia reversa, permitindo uma abordagem mais precisa e personalizada para cada paciente.

Exemplos de cirurgias reais com o uso de navegação 3D para realização de prótese reversa

Previsão dos Resultados com Inteligência Artificial

O uso de algoritmos de aprendizado de máquina para prever o tamanho dos implantes na artroplastia reversa é uma área emergente. Esses algoritmos utilizam dados pré-operatórios dos pacientes para prever os resultados funcionais e a taxa de complicações, auxiliando muito o médico e o paciente na tomada de decisão sobre a cirurgia.

Estudos mostram que esses modelos preditivos têm uma precisão elevada, o que sugere que a inteligência artificial pode desempenhar um papel importante no planejamento pré-operatório da artroplastia reversa.

Exemplo real de um paciente com avaliação pelo sistema de inteligência artificial para estimativa do resultado final ao pós-operatório de prótese reversa

Recuperação Pós-operatória

A recuperação envolve imobilização inicial do ombro seguida de um protocolo de reabilitação guiado por fisioterapia, com foco na restauração gradual do movimento e na força muscular. O tempo típico de recuperação pode variar entre 3 a 6 meses, dependendo da complexidade do caso e da aderência ao programa de reabilitação.

Alternativas à Prótese Reversa do Ombro

Outras opções de tratamento para condições semelhantes incluem a artroplastia anatômica do ombro, a transferência de tendões como o trapézio inferior e a reconstrução da cápsula superior, e procedimentos de preservação articular. A escolha do tratamento depende da condição específica do ombro, da idade do paciente, e do nível de atividade.

Quais são os riscos e complicações da Prótese Reversa?

A artroplastia reversa de ombro, apesar de ser uma opção eficaz para melhorar a função e reduzir a dor em pacientes com condições severas no ombro, apresenta risco de complicações.

De acordo com o estudo de Doyle et al.. a média dos principais riscos e complicações são descritos abaixo:

  • Infecção periprotética: 4,3%
  • Fratura periprotética glenoidal: 0,8%
  • Fratura periprotética umeral: 2,4%
  • Desmontagem da prótese: 1,3%
  • Fratura acromial: 2,0%
  • Paralisia nervosa: 3,0%
  • Soltura asséptica (sem infecção): 2,4%
  • Luxações: 3,7%

Em casos mais graves, pode ser necessária uma cirurgia de revisão, que ocorre em cerca de 4,9% dos pacientes. Portanto, é fundamental que pacientes e cirurgiões estejam cientes desses riscos para um planejamento cuidadoso e monitoramento pós-operatório adequado, além de estratégias e técnicas rigorosas para reduzir esses riscos.

Referências


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